sábado, 17 de setembro de 2011

A dor de matar ilusões



Vivia o meu luto de amor. Olhava pra dentro de mim e via ali, deitada em caixão branco em estilo romântico, todas as minhas ilusões de amor. Suspirava, seus últimos ais, uma que cultivei durante anos: a idéia de que as pessoas só permanecem juntas por amor ou a fidelidade ao amor declarado.
Poxa, nos dias de hoje, em que o divórcio já é permitido há anos e cada dia mais se torna menos burocrático o desfazimento dos vínculos formais do matrimônio, manter um caso extraconjugal me parecia, no mínimo, démodé. Olhava a meu lado e, no entanto, via homens casados paquerando tranqüilamente pelos barzinhos do Rio carregando no dedo suas largas alianças. A um desses, que insistia em pedir meu telefone mesmo diante de um sonoro: "não quero conversar com você!" eu disse: posso te dar um telefone sim, o do meu analista.

Por onde olhava, eu via traição. Essas cenas e outras tantas histórias contadas em verso e prosa sobre encontros eventuais, namoricos e casos extraconjugais juravam de morte minha ilusão predileta e me atormentava: por quê?
De outro lado, eu via os meus amigos separados ou em vias de, o que, de certa forma, me confundia: por quê? Entre relações extraconjugais e separações, o que definiria a escolha? Só resta essa alternativa? Estamos entre casamentos infelizes entremeados de relações paralelas e a separação? Há um outro caminho possível para as relações de afeto?
Recentemente, uma amiga querida, recém separada, deixou um recadinho no meu facebook dizendo que já não era mais uma grande incentivadora de casamentos, mas que desejava a mim toda felicidade do mundo e sucesso na empreitada. Concluía contando de uma amiga comum, que estava se separando.
Naquele momento, lendo a mensagem, sorri internamente por notar que já havia vivido o meu luto de amor com todas as dores reais de matar ilusões.
O que sei é que, ultimamente, só tenho notado pessoas felizes ao meu redor e sinto o que têm em comum: a decisão de construírem um caminhar coerente com suas verdades internas em quaisquer relações de afeto que estejam construindo, tenham o nome que tiverem.

Carina Bicalho

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