sexta-feira, 30 de março de 2012

Partes da minha felicidade



"Eu não havia marcado hora pra viver aquele instante. Ele não estava anotado na agenda da minha expectativa. Não utilizei o tempo dos olhos na direção de calendários e relógios por aguardá-lo. Não me preparei para recebê-lo. Aconteceu de repente, feito chuva derramada de improviso, sem que o céu revele antecipadamente o seu desejo em alto e bom som. Quando percebi, eu estava lá e ele era perfeito. Quando percebi, eu era aquele instante e ser aquele instante era contemplar a nítida e rica paisagem que ele me convidava a experimentar. Era me sentir viva e isso é uma felicidade imensa. Pode haver algo mais estranho do que um ser vivo se apoderar da própria vivacidade apenas de vez em quando, somente em circunstâncias chamadas de especiais? Costumamos fazer isso.

Durante alguns segundos, parei o que estava fazendo para fotografar com o sentimento o repentino contato com uma felicidade refletida também no ambiente, mas que começava em mim, eu tinha certeza. Era porque estava feliz que as coisas que me rodeavam se mostravam felizes. Cada uma com o seu jeito de dizer a alegria. Cada uma com o seu modo de me espelhar. Se outra pessoa, fora daquela freqüência de contentamento, chegasse ali naquele instante, é provável que não visse coisa alguma que justificasse a minha emoção. A mágica começa no mágico, não naquilo que ele toca. Os olhos nos falam do que o coração vê, não tem outra maneira.

Muitas vezes esperamos viver momentos felizes com ares de solenidade, como se existisse todo um cerimonial a ser cumprido para sermos merecedores de experimentá-los. Nós nos acostumamos a imaginar a felicidade sempre afastada do instante presente por quilômetros que precisamos percorrer, quase sempre com esforço e sacrifício, para sermos capazes de finalmente encontrá-la e, cansadíssimos, olhá-la nos olhos. Não é bem assim que parece funcionar. Quando buscamos a felicidade com essa perspectiva, a cada meta alcançada ela tende a se deslocar para outra distância e, muitas vezes sem perceber, nos dedicamos a buscá-la sempre lá longe, sem a oportunidade de habitar o mesmo lugar onde ela se encontra.

A felicidade precisa estar onde nós estamos, não importa quantos sonhos ainda temos para passar a limpo com as nossas ações. Não importa o tanto de realizações que ainda podemos concretizar. Não importa quantas pendências nos aguardam. Ou ela está onde nós estamos ou não está em lugar nenhum, porque o daqui a pouco não existe além da nossa intenção. Há um único instante para sermos felizes, apesar de um bocado de coisas: este aqui. Os outros podem vir, esperamos que venham, mas, seguramente, não sabemos se virão. A melhor maneira de ser infeliz é acreditar que só se pode ser feliz quando e se.

Naquele instante, naquele lá que eu vivi, eu nem estava pensando na felicidade. Estava distraída, cozinhando ou isso que chamo sem cuidado de cozinhar, um CD de Madeleine Peyroux tocando na sala, um incenso gostoso dizendo seu perfume ao ambiente, a luz de uma luminária brincando de lua numa noite de eclipse. Era isso. Só isso. Tudo isso. E quando eu percebi, eu era feliz. Naquele instante, ri como uma criança faz ao saborear a delícia da própria travessura. Ser feliz é a melhor arte que podemos nos flagrar aprontando. Quando estamos relaxados fica mais fácil sentir que a alegria não vem só do brinquedo: começa em quem brinca. Nós, adultos, nos esquecemos que a felicidade já é. Que está disponível mesmo quando não conseguimos acessá-la. Que mora nas coisas mais simples do mundo. Essas aqui, bem próximas do nosso alcance, agora".

Ana Jácomo

Enquanto eu durmo



"Todos os pensamentos que não chegaram ao destino, todas as juras de amor que não foram ouvidas, toda a mágoa que não foi curada, todo o sentimento voa pelos céus da cidade, esperando que a manhã traga bem mais do que um novo dia, porque já dizia Shakespeare: somos feitos da matéria dos sonhos e o sono confina nossa breve existência".

Miguel Falabela

quinta-feira, 29 de março de 2012

Eu posso



"Eu posso sonhar sim, com um amor novo, bonito, leve e com cheiro de manhã. Eu posso sonhar com esse amor estranho que me deixa levemente trêmula, mas sabe o que eu quero e me entende sem muita dificuldade. Eu posso SIM, sonhar com um amor colorido e com gosto de torta de maça. Eu sonho com um amor sempre novo, mesmo depois de cinquenta anos juntos. Eu sou dessas, invento demais, sonho demais, idealizo demais. E quer saber? Eu amo ser assim! Que terrível seria não ter os sonhos para me dar um mundo como gosto. E os sonhos não são para isso? Para nos dar o que queremos, mesmo quando parece impossível viver a situação, mesmo quando achamos que a coisa não vai? Deus nos deu os sonhos foi para nos livrar do peso do mundo! E o meu mundo? É leve, é doce, é colorido... É REAL!"

Noemyr Gonçalves

quarta-feira, 28 de março de 2012

Teimosia


"Não é que seja exatamente corajoso, meu coração tem é isso de bom: não ocupa espaço com mágoas e, com o tempo, ele se tornou desmemoriado pra assuntos de frustração. Quando me dou conta, lá está ele amando de novo, sorriso de orelha a orelha, com tal frescor que parece que nunca foi ferido. Dá, sim, pra ver uma cicatriz aqui e ali, outras mais adiante, que cicatriz não morre, mas ele não liga. Nem eu. Não é que seja exatamente teimoso, meu coração tem é isso de bom: gosta de amar. Eu também".

Ana Jácomo


Minha alma se perfuma numa doce vibração...



"Às vezes Deus acerta tanto que a gente nem sabe como agradecer..."


terça-feira, 27 de março de 2012



"Amar é uma arte, mas nem todo mundo é artista"

Eu: Música

Ainda não descobri de onde vem a minha ligação com a música. Talvez eu nunca saiba, mas definitivamente isso não tem a menor importância. Para música eu abro bem os ouvidos, as janelas da minha vida e as portas do meu coração. Deixo que ela se encarregue de encantar cada um dos momentos dos quais eu vivo e dos quais eu já vivi. Assim eu vou me dando conta que sons dos mais diversos que já me fizeram chorar, sorrir, dançar, lembrar de alguém, sentir saudade, amar, sofrer, falar com Deus. Essa é a minha trilha sonora. Uma trilha que vai se modificando a dia, a cada hora, a cada novo acontecimento. Ainda bem que no meu mundo existe música.


segunda-feira, 26 de março de 2012

Essa canção que é por Ti...


Você sabe



Você sabe tanto quanto eu não gostaria, sabe que eu me apaixono quando alguém me inspira poesia e que me enrosco toda pra dormir abraçada porque sinto frio o tempo inteiro. Você sabe que fico amolecida no fim da tarde, que fotografo muros grafitados e subo em árvores, que ainda escrevo cartas manuscritas porque acho letra de gente erótica e mais bonita. Você sabe quando estou acompanhada e com o pensamento ausente. Quando a imaginação já mudou o rumo da prosa, quando o farfalhar das folhas ao vento suprimiram o estampido do teu jazz em meus ouvidos. Você sabe que adoro quando beijas meu umbigo. Você sabe também que só sei cumprimentar amigo com abraço apertado, que beijo na boca quem não é namorado, que tenho algumas exuberâncias de artista, mas que não sou promíscua. Você sabe que eu tenho lá meu lado reservado e convencional, que todo ano eu consulto o trânsito do meu mapa astral e que faço orações todos os dias antes de dormir e quando acordo: minha mão entrelaçada na sua para que seu corpo receba a energia dessa doce sintonia. Você sabe mais do que eu gostaria que eu amanheço antes do dia para não ter sobressaltos com o despertador, que eu subo pelas escadas porque detesto esperar o elevador. Sabe que eu planto margaridas, mas presenteio com girassóis e que mergulho, munida no mar, com as bênçãos dos meus Orixás. Que tomo sol aos litros, no gargalo para alimentar o meu plexo solar. Você sabe além do que eu gostaria... Que na sinopse desse romance, você é o motivo de tanta alegria.

Marla de Queiroz

sábado, 24 de março de 2012

O necessário



"Uns queriam um emprego melhor; outros, um emprego.
Uns queriam uma refeição mais farta; outros, apenas uma refeição.
Uns queriam uma vida mais amena; outros, apenas viver.
Uns queriam ter pais mais esclarecidos; outros, apenas ter pais.
Uns queriam ter olhos claros; outros, apenas enxergar.
Uns queriam ter voz bonita; outros, apenas falar.
Uns queriam o silêncio; outros, ouvir.
Uns queriam um sapato novo; outros, ter pés.
Uns queriam um carro; outros, andar.
Uns queriam o supérfluo.
Outros, apenas o necessário."

Chico Xavier

Não é exagero



...quando eu falo que sinto as coisas com o coração e muito menos uma simples metáfora! Sim, eu amo com o coração, ele esta presente em cada momento do meu relacionamento. Desde o começo, quando estar com aquela pessoa acelera ele de uma forma inexplicável, só pelo simples fato de estar com aquela pessoa, e sentir como se não pudesse segurar cada batimento, como se aquela pessoa fosse capaz de acelerar cada partícula do seu corpo. Ate quando seu coração se acostuma com a presença daquela pessoa, porque conforta, porque é uma coisa tão normal a presença daquela pessoa quanto cada batida do seu coração. Ate quando você perde seu coração, quando tudo termina e você sente apenas um oco dentro do seu peito, e você tenta entender aquilo, você tenta compreender da onde vem aquela dor, sem saber que ali falta algo, falta um coração, falta todos aqueles batimentos, e você se sente morta, por dentro e por fora!

Adriana Queiroz

sexta-feira, 23 de março de 2012

Me ensina


Não é nada fácil. Mas você é bom nisso. Você me amolece com suas palavras. Me suporta com esse seu jeito doce-azedinho. Você é uma pessoa boa e acha que o mundo é bom. Aprendeu a ver o mundo com seus olhos (me ensina?). E eu sou pura. Pura azedura. Puro teste de paciência com você. Testo seus nervos, sua pele, seu suor. Testo suas noites de sono. Seus sonhos. Misturo os meus com os seus. Me perco em você todo. Agora só falta a gente achar um caminho.
Me ensina a falar a sua língua. Me ensina a ver o mundo bom que você quer me mostrar lá fora. A ver o que eu não vejo. Me leva pra você. Some comigo no mundo. Me coloca pra dormir e só deixa eu acordar se for do seu lado. Não me deixa sozinha nunca mais.

Brena Braz


Os dançarinos do arame


Dentro das atuais coordenadas do espaço e do tempo, aqui nos vamos equilibrando sobre este fio de vida...
Que rede de segurança, pensamos nós, cheios de esperança e medo, que rede de segurança nos aparará?"

Mario Quintana


quinta-feira, 22 de março de 2012

Tempo, tempo, tempo...



Se o tempo transforma e desfaz tantos laços, também nos entrega a sensata constatação de que não vale a pena lutar pelo que cumpriu lindamente seu papel e ficou no passado. Já não somos os mesmos de segundos atrás e não há por que perpetuar tudo aquilo que segue... e que se isenta de culpas, porque é da natureza da vida o eterno movimento. Natural dos belos laços é a saudade, onde nos reencontramos no melhor do que vivemos... e que já não existe mais. Porque se foi um daqueles cor de rosa, bem de menina, eu ficava mais bonita com ele por perto. Hoje apenas sigo na fluidez do tempo... de um modo incompleto, com uma lembrança feliz e um sorriso um pouco mais triste.

Lu Tostes

Olhos nos olhos

E não importa quão grande seja a multidão... Meus olhos sempre procuram pelos seus.


quarta-feira, 21 de março de 2012

I got an angel...


"E se disserem que o amor enfraquece com o tempo, diga a eles que o tempo não existe."

Jack Johnson


Pra quem me entende...



"Quando tá tudo indo bem, eu sempre tenho a sensação de que alguma coisa, no fundo, tá muito errada. Sei lá, é como se um relacionamento saudável fosse impossível no meio dessa merda toda, e quando eu não posso ver os erros, eu fico com essa certeza de que estou sendo enganada. E fico procurando, investigando, revirando o mundo pra encontrar os vacilos, mentiras, motivos pra terminar. Percebe a loucura? É como se ninguém pudesse me amar e ponto, de tanto colarem o adesivo de ‘trouxa’ na minha testa, qualquer carinho me parece suspeito. Percebe a tortura? Fico oscilando entre confiar e desconfiar, querendo viver uma história leve e sempre me afundando nas minhas neuroses e cicatrizes. E homem nenhum aguenta isso, homem nenhum percorre meu labirinto até o fim. Mas como eu poderia me entregar, sem antes saber se posso ir inteira? Como posso confiar de novo, sem saber se vai ser realmente diferente? Quero alguém que rompa meus lacres, não que me lacre mais! E sigo estragando tudo, só pra não ficar pior depois. Quando eles finalmente se cansam e caem fora porque eu sou louca de pedra, eu fico satisfeita. Volto pra fossa por um tempo, sem mistérios, já conheço bem o lugar e a porta de saída. E penso “Viu, sabia que eu tava certa”. Talvez eu até esteja errada, mas que se dane. Se uma pessoa não tem paciência nem pra conquistar minha confiança e afastar meus medos, o que eu posso esperar então? Sou quebra-cabeça de 500 mil peças, quem não tiver capacidade, tenta um jogo mais fácil. Eu supero e agradeço."

Quebra-cabeça, Tati Bernardi.

terça-feira, 20 de março de 2012

Creio em tudo isso



Eu creio em mim mesmo. Creio nos que trabalham comigo, creio nos meus amigos e creio na minha família. Creio que Deus me emprestará tudo que necessito para triunfar, contanto que eu me esforce para alcançar com meios lícitos e honestos. Creio nas orações e nunca fecharei meus olhos para dormir, sem pedir antes a devida orientação a fim de ser paciente com os outros e tolerante com os que não acreditam no que eu acredito. Creio que o triunfo é resultado de esforço inteligente, que não depende da sorte, da magia, de amigos, companheiros duvidosos ou de meu chefe. Creio que tirarei da vida exatamente o que nela colocar. Serei cauteloso quando tratar os outros, como quero que eles sejam comigo. Não caluniarei aqueles que não gosto. Não diminuirei meu trabalho por ver que os outros o fazem. Prestarei o melhor serviço de que sou capaz, porque jurei a mim mesmo triunfar na vida, e sei que o triunfo é sempre resultado do esforço consciente e eficaz. Finalmente, perdoarei os que me ofendem, porque compreendo que às vezes ofendo os outros e necessito de perdão.

Mahatma Gandhi

segunda-feira, 19 de março de 2012

É assim!


“Deus segue um plano ao escrever a música de nossa vida. A nossa parte deve ser aprender a melodia e não desanimar nas "pausas" e "contratempos".

Eu canto, tu cantas, nós cantamos...



Cantora? Musicista? Definitivamente não! Para não dizer impossível, digo que é algo bastante difícil de acontecer. No entanto, o que seria da vida se não existissem as coisas que realmente nos fazem bem? É isso que eu sinto quando canto: felicidade! Uma emoção toma conta de mim, meu corpo fica mais leve e minha alma parece flutuar. É como se todas as belezas do mundo e os mais sublimes sentimentos pudessem ser expressos em notas musicais, no ritmo do nosso coração, e na mais doce e suave melodia. Fascinante como algo tão simples (cantar) pode provocar tantas sensações, às vezes chego a ficar espantada. Lindo e emocionante. Apesar disso, não tenho o intuito e muito menos a pretensão de fazer sucesso ou me tornar uma “estrela” através do canto. Não desejo aplausos, elogios e nem admiração. Desejo apenas tornar eterna a emoção que me envolve, que me permite esquecer os problemas do dia a dia, que traz alegria e paz para o meu espírito. É verdade que as criticas negativas, dos mais diversos tipos, já me fizeram mal, calaram a minha boca e mataram lindas flores musicais... Passado! Hoje meu compromisso é comigo mesma, com o que me faz bem, ao lado de quem me faz bem. Eu sigo, tal qual a música, “caminhando e cantando e seguindo a canção”, pois o que importa é o que se passa dentro do meu coração.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Quantos se perderam no caminho...

Do livro "Obras Póstumas", da lavra do espírito Rossini, sobre a Música Espírita:

"Os músicos, meu Deus! são homens como os outros, mais homens talvez, e, a esse título, são fracos e pecáveis. Não fui isento de fraquezas, e se Deus me fez a vida longa, a fim de me dar o tempo de me arrepender, a embriaguez do sucesso, a complacência dos amigos, a bajulação dos aduladores, frequentemente, disso me retiraram a possibilidade. Um maestro é uma força, neste mundo onde o prazer desempenha tão grande papel. Aquele cuja arte consiste em seduzir os ouvidos, a comover o coração, vi muitas armadilhas se criarem sob os seus passos, e nelas cai, o infeliz! Embriaga-se com a embriaguez dos outros; os aplausos lhe tapam os ouvidos, e vai direto ao abismo, sem procurar um ponto de apoio para resistir ao arrastamento".

O que importa é o caminho


        Vida é o que existe entre o nascimento e a morte. O que acontece no meio é o que importa.
          No meio, a gente descobre que sexo sem amor também vale a pena, mas é ginástica, não tem transcendência nenhuma. Que tudo o que faz você voltar pra casa de mãos abanando (sem uma emoção, um conhecimento, uma surpresa, uma paz, uma ideia) foi perda de tempo.
          Que a primeira metade da vida é muito boa, mas da metade pro fim pode ser ainda melhor, se a gente aprendeu alguma coisa com os tropeços lá do início. Que o pensamento é uma aventura sem igual. Que é preciso abrir a nossa caixa preta de vez em quando, apesar do medo do que vamos encontrar lá dentro. Que maduro é aquele que mata no peito as vertigens e os espantos.
          No meio, a gente descobre que sofremos mais com as coisas que imaginamos que estejam acontecendo do que com as que acontecem de fato. Que amar é lapidação, e não destruição. Que certos riscos compensam – o difícil é saber previamente quais. Que subir na vida é algo para se fazer sem pressa.
          Que é preciso dar uma colher de chá para o acaso. Que tudo que é muito rápido pode ser bem frustrante. Que Veneza, Mykonos, Bali e Patagônia são lugares excitantes, mas que incrível mesmo é se sentir feliz dentro da própria casa. Que a vontade é quase sempre mais forte que a razão. Quase? Ora, é sempre mais forte.
          No meio, a gente descobre que reconhecer um problema é o primeiro passo para resolvê-lo. Que é muito narcisista ficar se consumindo consigo próprio. Que todas as escolhas geram dúvida, todas. Que depois de lutar pelo direito de ser diferente, chega a bendita hora de se permitir a indiferença.
          Que adultos se divertem muito mais do que os adolescentes. Que uma perda, qualquer perda, é um aperitivo da morte – mas não é a morte, que essa só acontece no fim, e ainda estamos falando do meio.
          No meio, a gente descobre que precisa guardar a senha não apenas do banco e da caixa postal, mas a senha que nos revela a nós mesmos. Que passar pela vida à toa é um desperdício imperdoável. Que as mesmas coisas que nos exibem também nos escondem (escrever, por exemplo).
          Que tocar na dor do outro exige delicadeza. Que ser feliz pode ser uma decisão, não apenas uma contingência. Que não é preciso se estressar tanto em busca do orgasmo, há outras coisas que também levam ao clímax: um poema, um gol, um show, um beijo.
          No meio, a gente descobre que fazer a coisa certa é sempre um ato revolucionário. Que é mais produtivo agir do que reagir. Que a vida não oferece opção: ou você segue, ou você segue. Que a pior maneira de avaliar a si mesmo é se comparando com os demais. Que a verdadeira paz é aquela que nasce da verdade. E que harmonizar o que pensamos, sentimos e fazemos é um desafio que leva uma vida toda, esse meio todo.

Martha Medeiros


quinta-feira, 15 de março de 2012

Amor e o Grito


Um dia um mestre perguntou aos seus discípulos:
         - Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?
         Os homens pensaram por alguns momentos.
         - Porque perdemos a calma - disse um deles. - Por isso gritamos.
         - Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao teu lado? Não é possível falar-lhe em voz baixa? Por que gritas a uma pessoa quando estás aborrecido?
         Os homens deram algumas respostas, mas nenhuma delas satisfez o mestre. Finalmente ele explicou:
        - Quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poder escutar-se.
        Quanto mais aborrecidas estejam, mais forte terão que gritar para se escutar um ao outro através desta grande distância.
          Em seguida perguntou:
       - O que sucede quando duas pessoas se enamoram? Elas não gritam, mas se falam suavemente. Por quê? Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena. Quando se enamoram, acontece mais alguma coisa? Notem que quase não falam, somente sussurram, e ficam cada vez mais perto do seu amor. Finalmente, não necessitam sequer sussurrar, somente se olham e isto é tudo. Assim é quando duas pessoas que se amam estão próximas.
            Portanto, quando discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais. Chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta.

Clarice Lispector


quarta-feira, 14 de março de 2012

É você, é você...



E juntos, somos a nossa outra metade. A metade de faltava, que nunca se completava. Agora seres completos, repletos e apaixonados. 

 "...E se for preciso eu desenho
Eu amo você,
Que eu quero você..."


Vaidade



Ter ou não ter, eis a questão? Existe vaidade boa? Precisamos mesmo disso? Difícil pensar e principalmente falar sobre o assunto. Incrível como os temas mais complexos passam pela minha mente, mas definitivamente a questão não é essa.

Voltando ao assunto, nada melhor que recorrer ao dicionário para extrairmos uma ideia inicial para nos guiar. Então, nesse sentido, vaidade é desejo imoderado de chamar atenção, ou de receber elogios; ideia exageradamente positiva que alguém faz de si próprio; presunção, fatuidade; ostentação, vanglória. Definitivamente, sob esse aspecto, vaidade não me parece algo “bom”.

Apesar disso, sempre acreditei que um pouco de vaidade era preciso. Não essa vaidade definida pelo dicionário, mas sim aquela que nos faz gostar e cuidar de nós mesmos, na medida certa. Tão difícil como definir vaidade é definir o quanto de vaidade cada um de nós deveria ter. Impossível encontrar um limite? Provavelmente não. O limite deve ser o limite do bom senso, da autocrítica, da reflexão sobre os atos, da imagem que estamos transmitindo, dos sentimentos que estamos cultivando dentro de nós.

No entanto, o limite é tão tênue que, infelizmente, já vi muitos que não souberam respeitá-los e acabaram destruindo amizades, trabalhos, encontros, aprendizados, relacionamentos, histórias, vidas. A vaidade, em algum momento, encontrou caminhos desconhecidos e estabeleceu seu reinado. Atravessou sentimentos, ideais e crenças apenas para gritar e/ ou ouvir: eu sou melhor!

Com toda certeza já devo também ter escorregado por esse caminho. Mas que bom que sempre podemos refletir sobre as nossas ações. Assim, já há algum tempo, acredito que o “tipo” de vaidade que eu sempre defendi, pode e deve ser substituído por outros nomes: humildade e amor próprio. 

sexta-feira, 9 de março de 2012

Você me aceita...



Você me quer?
Você cuida de mim?
Mesmo que eu seja uma pessoa egoísta e ruim?
Você me aceita
E me dá a receita
De como conviver com um monstro mesquinho e careta?
Você me respeita
Não grita comigo
Mesmo que eu tente tudo pra te irritar
Você tem que entender
Que eu sou filho único
Que os filhos únicos são seres infelizes
Eu tento mudar
Eu tento provar que me importo com os outros
Mas é tudo mentira (tudo mentira)
Estou na mais completa solidão
Do ser que é amado e não ama
Me ajude a conhecer a verdade
A respeitar meus irmãos
E a amar quem me ama

Cazuza

quinta-feira, 8 de março de 2012

Para todo o sempre!


Ao som dessa música que já foi escolhida para a trilha sonora do nosso dia, eu dedico esse texto à você:


"Você não sabe, mas eu planejo minha vida toda ao seu lado. Eu fico imaginando como será o nosso casamento. Na praia, talvez? Eu imagino você sorrindo no altar ao me ver indo de encontro a ti, e sabe, meu coração estará pulando várias batidas a cada passo que darei até chegar a você. Logo começo a imaginar você dizendo lindas palavras em nossa cerimônia, e quando o padre perguntar “Aceita essa mulher como sua esposa?”, imagino que irá esperar uns 5 segundo para responder, só para sentir minhas mãos tremerem, e aquele suspiro de suspense subir no ar, e logo ao ouvir te dizer “Sim”, só permitir que seus braços se envolvam em volta de minha cintura, e finalmente daremos o primeiro beijo depois de casados, te considerando, de uma vez por todas, o meu homem.

Compraremos um apartamento, nós mesmos iremos reformar, pintar cada parede do jeito que desejamos, passaremos o dia construindo o nosso sonho, e ao anoitecer, deitaremos em um colchão. Será a única coisa existente lá dentro, ordenaremos uma pizza e logo mais, nos afogaremos em garrafas de vinho, espalhando nosso romantismo por todos os cantos do nosso lar. Quando nosso apartamento estiver pronto, eu tentarei cozinhar, e claro, você me ajudará da melhor maneira possível. Teremos aquela briga de comidas, e em instantes me pegará no colo, me levará até o banheiro e tomaremos aquele banho refrescante, mas depois de nossos beijos calorosos, esse banho será necessário novamente.

Posso prever tua alegria ao receber a notícia que logo mais teremos um bebê, ele será um menino, pois assim, ao longo do tempo virá uma menina, e então ele poderá quebrar a cara do primeiro idiota que machucar nossa pequena. Um protegerá o outro, como sempre deverá de ser. Imagino nossas noites quando nosso xodó começar a chorar, você irá correndo pega-lo, mesmo cansado. Saberá que o meu descanso é o mais importante.

As brigas? Ah, elas existirão, mas nada que um beijo de tirar o fôlego não resolva. Consigo imaginar eu acordando nas manhãs de domingos e me deparar com todos ao redor de nossa cama, nos fazendo carinho, e ao olhar pro lado, te ver sorrindo igual um tolo. Mas é isso que começa a ser quando o teu objetivo é o meu sorriso. Veremos nossos filhos crescerem, e, ao longo do tempo, logo virá nossos netos.

Sou capaz de ve-los correndo pelo nosso quintal. E nós dois? Estaremos sentados naquelas cadeiras tipo balanço, feitas só para nós. Iremos envelhecer juntos, um ao lado do outro; Mas acredite, existe uma eternidade na qual tenho tamanha sede que nunca acabe, existe um para sempre reservado só para nós; E então, viveremos assim, até o dia em que meu coração resolver parar de bater, e até mesmo o seu.

Mas entenda, ainda será eterno, quando o assunto é o nosso amor".

Ps. Desconheço a autoria, mas se alguém souber, please, deixe seu comentário aqui!

quarta-feira, 7 de março de 2012

O amor acaba?



O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova York; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.

Paulo Mendes Campos

terça-feira, 6 de março de 2012

Verdades


É assim na novela, é assim na vida real...

Rodrigo

Ana, minha querida,
Dizem que o amor acaba, que o amor termina. Mas não é verdade. Nada acaba, tudo dura, continua e se transforma.

Enquanto eu aguardava aquela cirurgia, mil anos se passaram. As duas estavam lá dentro e eu pensava: “se acontecer alguma coisa com elas, eu morro!” Dizem que passa um filme da nossa vida na nossa cabeça. E por isso eu vi: vi vocês duas, meninas, chegando na nossa casa. Vi nós três juntos, ainda pequenos e tantos e tantos momentos. Vi você erguendo taças, troféus. Tua imagem na revista, inacessível, distante da criança que eu era. E que você era também.

Depois a nossa fuga de casa, veio o nosso medo, veio a nossa coragem, veio o salto sem rede que tantas vezes se chama amor.  Vi você indo embora, sendo levada de diferentes formas, tantas e tantas vezes. E depois vi você voltando e no fundo de seus olhos, como num rio, tudo que a gente não tinha vivido. A partir daí eu me vi dividido entre dois amores, entre duas vidas: uma que eu estava vivendo e outra que eu jamais tinha podido viver.

Durante os meus piores momentos enquanto eu aguardava naquela sala, foi como se a doença da nossa filha tivesse me curado. Eu entendi que não tinha mais divisão nenhuma. O que tinha sido vivido, o que tinha ficado pra trás, tudo, era parte de uma mesma história, de uma mesma vida e de um mesmo sentimento: amor. E foi então que eu vi nós dois juntos cruzando a fronteira.

Ana
Como se eu tivesse alcançado a outra margem de um rio. O rio onde a gente se amou pela primeira vez, o rio do meu acidente, mas sempre um rio. E porque naquele momento eu precisava ser forte, finalmente, sem escapes, eu consegui atravessar aquele rio eterno. Como se num instante, eu tivesse vivido todos os anos que ainda estavam parados em mim, me esperando.

Do outro lado da fronteira, que sem perceber nós já tínhamos cruzado, uma infância compartilhada, uma adolescência truncada, uma juventude não vivida. Do lado de cá, dois adultos maduros finalmente libertos daquele fardo pesado feito de lembranças, de sonhos antigos. Porque há novos sonhos do lado de cá da fronteira. E agora podemos viver!

sexta-feira, 2 de março de 2012


"Não importa o quanto essa nossa vida nos obriga a ser sérios. Todos nós procuramos alguém para sonhar, brincar, amar e tudo o que precisamos é de uma mão para segurar e um coração para nos entender"

Miguel Falabela


quinta-feira, 1 de março de 2012

Assim com você



"Que todos os dias sejam sorridentes como o brilho dos teus olhos. Que o sentimento mais intimo do teu coração seja manifestado pela sensatez da pessoa que és. Que o silêncio vindo de ti, guarde as palavras mais bonitas de serem pronunciadas e ouvidas. Que a dor que suportas em ti, te torne alguém ainda mais forte do que és. E por fim, que os teus sonhos, que sejam apenas sonhos, sejam realizados depois de uma luta constante por eles. Não te esqueças que a esperança está sempre lá bem no fundinho, nunca morre, apenas se esconde por detrás de cada sorriso".