quarta-feira, 27 de março de 2013

Aconteceu!


"Você me aconteceu em uma quinta-feira cinzenta, movimentada e corrida. Nada parecido com as comédias românticas que eu costumava assistir. E foi me conquistando aos pouquinhos. Primeiro, com seus gostos tão parecidos com os meus. Depois, com seu jeito carinhoso de me mostrar seu ponto de vista. E, por último, para me ganhar de vez, usou toda a sua capacidade de provar para o mundo a força da palavra amizade.

Com você eu não achei que era amor. Eu já tinha achado que era amor outras vezes, estava tentando evitar a palavra. Achei, uma vez, que era amor em um sorriso galanteador, desses que você esbarra e perde o ar. Olhei para o dono do sorriso e pensei: tô pronta. Óbvio que eu não estava pronta. Mas eu achei, como sempre, sempre acho. Achei que o amor ia aparecer naquele sorriso, que eu ia ser feliz como nos contos de fadas, coisa e tal. Não ia. A graça do sorriso passou no primeiro beijo.

Depois foram uns olhos azuis que achei que iam me ganhar. Tão bonitos, desses que parecem com o oceano. Achei que eram eles. E eles me olharam. E eu pensei: é agora! De novo, eu achei. Que tinha aparecido, finalmente. O tal cara da minha vida, que sempre falavam. O tal do cara certo, aquele que ia mudar tudo por aqui. Mas não era. Não era o cara, nem a hora.

Você não. Você apareceu enquanto eu não estava olhando. Apareceu enquanto eu estava concentrada em ler um livro, cortar o cabelo, fazer um novo curso, conhecer um novo bar, assistir a um novo filme. Você me apareceu enquanto eu olhava para todos os outros lados, sem, na verdade, procurar nada. E, de relance, distraída e despretensiosa, acabei achando: você.

Você e o seu sorriso sem grande coisa. Você e seus olhos castanhos. Você e sua normalidade. Você e sua loucura. Você e sua mania de ser lindo ao não ser o cara mais bonito do mundo. Você e suas palavras sinceras. Você e seu jeito admirável de ser fiel, leal, justo, inteligente e humilde. Você e suas frases de apoio, sua força, seus risos e sorrisos. Você e seus defeitos, suas falhas, suas faltas, seus buracos e suas ausências. Você e a lição de que não há por que esperar que seja a hora de viver um grande amor. Porque, depois que você surgiu, eu aprendi que o amor de verdade é mil vezes maior do que eu podia imaginar. E aparece sem aviso, sem hora marcada, sem perguntar “tá preparada?”. Acho, sei lá, que o amor de verdade é um tapa na cara que te acorda pra vida. Tipo você. Que, sem que eu percebesse, me ensinou o que era o amor."

domingo, 10 de março de 2013

O que eu era, já não sou



Quando olho para o meu passado, encontro uma mulher bem parecida comigo - por acaso, eu mesma - porém essa mulher sabia menos, conhecia menos lugares, menos emoções.

Martha Medeiros

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Uma ternura pela manhã...



“Quero me encantar mais vezes. Admirar mais vezes. Compartilhar mais amor. Dançar com a vida com mais leveza, sem medo de pisarmos nos pés uma da outra. Quero fazer o meu coração arrepiar mais frequentemente de ternura diante de cada beleza revista ou inaugurada. Quero sair por aí de mãos dadas com a criança que me habita, sem tanta pressa. Brincar com ela mais amiúde. Fazer arte. Aprender com Deus a desenhar coisas bonitas no mundo. Colorir a minha vida com os tons mais contentes da minha caixa de lápis de cor. Devolver um brilho maior aos olhos, aos dias, aos sonhos, mesmo àqueles muito antigos, que, apesar do tempo, souberam conservar o seu viço. Quero sintonizar a minha frequência com a música da delicadeza. Do entusiasmo. Da fé. Da generosidade. Das trocas afetivas. Das alegrias que começam a florir dentro da gente.”

Ana Jácomo

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

E a gente nem percebe...



Vai tocar Chico e vocês jantarão à luz de velas. Quando se der conta, estarão trocando SMS romântico numa segunda-feira à tarde, durante o expediente. Ele escreverá "ancioso" e você ignorará o erro de grafia, afinal, o abraço dele é melhor que a gramática. Antes que possam prever, apresentarão amigos e talvez formem uma turma única. Talvez não. Você ouvirá Fagner, Marron 5, Florence, Damien Rice, Zeca Baleiro e É O Tchan pensando nele. Ele acessará o RedTube pensando em… outra, mas homem é assim mesmo (é?). Ele terá ciúme da sua minissaia, do seu melhor amigo, do Twitter e do seu ex. Você terá ciúme até da sombra dele, mas tentará disfarçar cantando kuduro mentalmente. Vocês brigarão algumas vezes por bobagens que não valem um parágrafo. A reconciliação será tórrida e valerá cada cara emburrada. Acostume-se. Nunca será um mar de rosas. Mar é feito d’água salgada, minha filha! (E desde quando uma flor é mais bonita que a vista da praia?).

Flávia Queiroz

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Encontros e partidas...



"Sabe, acho que ninguém vai entender. Ou se entender não vai aprovar. Existe em nossa época um paradigma que diz: enquanto você me der carinho e cuidar de mim, eu vou amar você. Então, eu troco o meu amor por um punhado de boas ações. Isso a gente aprende desde a infância: se você for um bom menino, eu vou lhe dar um chocolate. Parece que ninguém é amado simplesmente pelo que é, por existir no mundo do jeito que for, mas pelo que faz em troca desse amor. E quando alguém, por alguma razão muito íntima, corre para bem longe de você? A maioria das pessoas aperta um botão de desliga-amor, acionado pelo medo e sentimentos de abandono, e corre em direção aos braços mais quentinhos. E a história se repete: enquanto você fizer coisas por mim ou for assim eu vou amar você e ficar ao seu lado porque eu tenho de me amar em primeiro lugar. Mas que espécie de amor é esse? Na minha opinião, é um amor que não serve nem a si mesmo e nem ao outro.

Eu também tenho medo, dragões aterrorizantes que atacam de quando em quando, mas eu não acredito em nada disso. Quando eu saí de uma importante depressão, eu disse a mim mesma que o mundo no qual eu acreditava deveria existir em algum lugar do planeta. Nem se fosse apenas dentro de mim... Mesmo se ele não existisse em canto algum, se eu, pelo menos, pudesse construí-lo em mim, como um templo das coisas mais bonitas em que eu acredito, o mundo seria sim bonito e doce, o mundo seria cheio de amor, e eu nunca mais ficaria doente. E, nesse mundo, ninguém precisa trocar amor por coisa alguma porque ele brota sozinho entre os dedos da mão e se alimenta do respirar, do contemplar o céu, do fechar os olhos na ventania e abrir os braços antes da chuva. Nesse mundo, as pessoas nunca se abandonam. Elas nunca vão embora porque a gente não foi um bom menino. Ou porque a gente ficou com os braços tão fraquinhos que não consegue mais abraçar e estar perto. Mesmo quando o outro vai embora, a gente não vai. A gente fica e faz um jardim, qualquer coisa para ocupar o tempo, um banco de almofadas coloridas, e pede aos passarinhos não sujarem ali porque aquele é o banco do nosso amor, do nosso grande amigo. Para que ele saiba que, em qualquer tempo, em qualquer lugar, daqui a não sei quantos anos, ele pode simplesmente voltar, sem mais explicações, para olhar o céu de mãos dadas.

No mundo de cá, as relações se dão na superfície. Eu fico sobre uma pedra no rio e, enquanto você estiver na outra, saudável, amoroso e alto-astral, nós nos amamos. Se você afundar, eu não mergulho para te dar a mão, eu pulo para outra pedra e começo outra relação superficial. Mas o que pode ser mais arrebatador nesse mundo do que o encontro entre duas pessoas? Para mim, reside aí todo o mistério da vida, a intenção mais genuína de um abraço. Encontrar alguém para encostar a ponta dos dedos no fundo do rio - é o máximo de encontro que pode existir, não mais que isso, nem mesmo no sexo. Encostar a ponta dos dedos no fundo do rio. E isso não é nada fácil, porque existem os dragões do abandono querendo, a todo instante, abocanhar os nossos braços e o nosso juízo. Mas se eu não atravessar isso agora, a minha escrita será uma grande mentira, as minhas histórias serão todas mentiras, o meu livrinho será uma grande mentira porque neles o que impera mais que tudo é a lealdade, feito um Sancho Pança atrás do seu louco Dom Quixote. É a certeza de existir um lugar, em algum canto do mundo, onde a gente é acolhido por um grande amigo. É por isso que eu tenho de ir. E porque eu não quero passar a minha existência pulando de pedra em pedra, tomando atalhos de relações humanas. Eu vou mergulhar com o meu amigo, ainda que eu tenha de ficar em silêncio, a cem metros de distância. Eu e o meu boneco de infância, porque no meu mundo a gente não abandona sequer os bonecos que foram nossos amigos um dia.

Agora em silêncio, tentando ensinar esses dragões a nadar."

Rita Apoena

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna



“Ela é uma moça de poses delicadas, sorrisos discretos e olhar misterioso. Ela tem cara de menina mimada, um quê de esquisitice, uma sensibilidade de flor, um jeito encantado de ser, um toque de intuição e um tom de doçura. Ela reflete lilás, um brilho de estrela, uma inquietude, uma solidão de artista e um ar sensato de cientista. Ela é intensa e tem mania de sentir por completo, de amar por completo e de ser por completo. Dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. Ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna”.

Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O que eu sinto com seu abraço


“Mas o melhor do abraço não é a ideia dos braços facilitarem o encontro dos corpos. O melhor do abraço é a sutileza dele. A mística dele. A poesia. O segredo de literalmente aproximar um coração do outro para conversarem no silêncio que dá descanso à palavra. O silêncio onde tudo é dito sem que nenhuma letra precise se juntar à outra. O melhor do abraço é o charme de fazer com que a eternidade caiba em segundos. A mágica de possibilitar que duas pessoas visitem o céu no mesmo instante.”

Ana Jácomo

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Limpo, claro e transparente



Imaginem um mundo de coisas limpas e bonitas, onde a gente não seja obrigado a fugir, fingir ou mentir, onde a gente não tenha medo nem se sinta confuso (não haverá a palavra nem a coisa confusão, porque tudo será nítido e claro), onde as pessoas não se machuquem umas às outras, onde o que a gente é apareça nos olhos, na expressão do rosto, em todos os movimentos — acrescentem a esse mundo os detalhes que vocês quiserem (eu me satisfaço com um rio, macieiras carregadas, alguns plátanos e uma colina — ou coxilha, como se diz aqui no Sul — no horizonte), depois convidem pessoas azuis para se darem as mãos e fazerem uma grande concentração para concretizar esse mundo — e, então, quando ele estiver pronto, novo e reluzente como se tivesse sido envernizado, então nós nos encontraremos lá e eu não precisarei explicar nada, nem contar nenhuma estória escura, porque estórias claras estarão acontecendo à nossa volta e nós estaremos sendo aquilo que somos, sem nenhuma dureza, e o que fomos ficou dependurado em algum armário embutido, junto com sapatos (quem precisará deles para pisar na grama limpa dessa terra?), roupas e enfeites (quem precisará de panos, contas ou cores na terra onde o ar será colorido e enfeitará nossos corpos?) — lá, eu digo, nós nos encontraremos entre centauros, sereias, unicórnios e duendes, e sem dizer nada, com um olhar verde (uma das minhas grandes frustrações sempre foi não ter olho verde — mas lá eu terei) eu direi o quanto gosto de vocês, e voaremos de tanta boniteza — combinado?

Caio Fernando Abreu