"A capacidade de esquecer é o que existe de
mais precioso sobre a face da Terra, sob nossas faces. Amar é indubitavelmente
mais magnânimo, mas não é tão essencial quanto o esquecimento: é ele que nos
mantém vivos.
O amor torna a paisagem mais bonita, mas é o
bálsamo curativo do esquecimento que nos faz ter vontade de abrir os olhos para
vê-la.
A paixão empresta um sentido quase mítico aos
dias, mas é esquecer a excruciante tristeza perante a morte dela que nos torna
aptos a nos encantar novamente dali a pouco.
Já esqueci amores inesquecíveis e sobrevivi a
paixões que, tinha convicção, me matariam se terminassem.
Às vezes, cruzo na rua com fantasmas que já
foram bem vivos na minha história e não deixo de sentir uma certa melancolia
por perceber que aquele rosto um dia pleno de significado se tornou tão
relevante quanto um outdoor de pasta de dente.
Algumas pessoas simplesmente são apagadas da
memória como filmes desimportantes. Sem maldade ou intenção, apenas esmaecem
até desaparecer.
É mesmo impossível manter na memória da pele
todos os que passaram por nós ou sermos mantidos por todos: gente demais,
espaço de menos...
O passado deve ser mantido no lugar dele e
não trazido nas costas feito mochila de viajante, lotada com os erros cometidos
e alegrias jamais revividas.
Para ser feliz é necessário pouca coisa além
de se livrar do excesso de carga e esquecer as coisas certas.
É útil também jamais perder de vista um
detalhe, afixá-lo no espelho do banheiro, repeti-lo como um mantra:
absolutamente nada é para sempre, nem mesmo os sentimentos que parecem ser (a
vida seria um lago estagnado se só existisse o perene).
Nunca mais haverá amor como aquele?
Ótimo, porque o novo é tão imenso que seria
um desperdício se algo se repetisse.
Todo mundo passa.
E é bom que seja assim".
Ailin Aleixo