Sou dos escritores que não sabem dizer coisas
inteligentes sobre seus personagens, suas técnicas ou seus recursos.
Naturalmente, tudo que faço hoje é fruto de minha experiência de ontem: na
vida, na maneira de me vestir e me portar, no meu trabalho e na minha arte. Não
escrevo muito sobre a morte: na verdade ela é que escreve sobre nós - desde que
nascemos vai elaborando o roteiro de nossa vida. O medo de perder o que se ama
faz com que avaliemos melhor muitas coisas. Assim como a doença nos leva a
apreciar o que antes achávamos banal e desimportante, diante de uma dor pessoal
compreendemos o valor de afetos e interesses que até então pareciam apenas
naturais: nós os merecíamos, só isso. Eram parte de nós. O amor nos tira o
sono, nos tira do sério, tira o tapete debaixo dos nossos pés, faz com que nos
defrontemos com medos e fraquezas aparentemente superados, mas também com
insuspeitada audácia e generosidade. E como habitualmente tem um fim - que é
dor - complica a vida. Por outro lado, é um maravilhoso ladrão da nossa
arrogância. Quem nos quiser amar agora terá de vir com calma, terá de vir com
jeito. Somos um território mais difícil de invadir, porque levantamos muros,
inseguros de nossas forças disfarçamos a fragilidade com altas torres e ares
imponentes. A maturidade me permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos
sofrimento, entender com mais tranqüilidade, querer com mais doçura. Às vezes é
preciso recolher-se.
Lya Luft.
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