Você sabe tanto quanto eu não gostaria, sabe
que eu me apaixono quando alguém me inspira poesia e que me enrosco toda pra
dormir abraçada porque sinto frio o tempo inteiro. Você sabe que fico amolecida
no fim da tarde, que fotografo muros grafitados e subo em árvores, que ainda
escrevo cartas manuscritas porque acho letra de gente erótica e mais bonita.
Você sabe quando estou acompanhada e com o pensamento ausente. Quando a
imaginação já mudou o rumo da prosa, quando o farfalhar das folhas ao vento
suprimiram o estampido do teu jazz em meus ouvidos. Você sabe que adoro quando
beijas meu umbigo. Você sabe também que só sei cumprimentar amigo com abraço
apertado, que beijo na boca quem não é namorado, que tenho algumas exuberâncias
de artista, mas que não sou promíscua. Você sabe que eu tenho lá meu lado
reservado e convencional, que todo ano eu consulto o trânsito do meu mapa
astral e que faço orações todos os dias antes de dormir e quando acordo: minha
mão entrelaçada na sua para que seu corpo receba a energia dessa doce sintonia.
Você sabe mais do que eu gostaria que eu amanheço antes do dia para não ter
sobressaltos com o despertador, que eu subo pelas escadas porque detesto
esperar o elevador. Sabe que eu planto margaridas, mas presenteio com girassóis
e que mergulho, munida no mar, com as bênçãos dos meus Orixás. Que tomo sol aos
litros, no gargalo para alimentar o meu plexo solar. Você sabe além do que eu
gostaria... Que na sinopse desse romance, você é o motivo de tanta alegria.
Marla de Queiroz
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