Vem cá, que eu preciso te contar que ando
sentindo essas coisas que a gente lê em poesia. Ando falando de amor pela rua,
cantando na cozinha e assobiando no chuveiro. Ando entregue. Ando andando meio
sem rumo, e quando vejo tô na porta da tua casa. Ando sem pressa porque teu
amor chega tarde, sempre depois das onze. Ando sentindo coisas demais. E me
ocupando de coisas de menos, que tu anda me consumindo os pensamentos e eu fico
sem fazer mais nada. Ando achando graça em música brega e tô até gostando mais
de casa. Tem mais poesia até no caminho do ônibus, quando o celular toca e você
reclama a saudade. Adoro quando você reclama a saudade. Com aquela voz morna de
quem quer, mas não pode. Ando tropeçando nos sorrisos e nos soluços. Que chorar
de amor, é parte desse negócio de ser feliz a dois. E a gente é feliz feito
dois bobos. Como se o mundo lá fora andasse calmo e sereno e a avenida parasse
inteira só porque a gente esquece de olhar pros dois lados. A gente é feliz pra
caralho. Sem medida assim... Porque medida é racional. É multiplicar,
dividir... E num tamo podendo fazer conta. Vem cá, que tô precisando te dizer
sobre tudo isso. Porque se eu num falo, nem eu acredito. Ando escrevendo essas
coisas todas melosas, ando gargalhando à toa. E tenho rasgado folha de caderno,
porque escrevo demais e fico me repetindo. Quando vejo, tô contando a mesma
história. É que nossa história, puta que pariu, dava um livro. Ando assim...
Colocando minha felicidade nos teus braços, ali onde encaixo a cabeça e fico
deixando teu cheiro pegar na minha roupa. Ando achando tudo mais bonito. E ando
errando feio. Mas errar é parte dessa coisa. Isso de andar amando.
Cíntia Moraes, adaptado.
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